Num mundo em mudança e com grande
incerteza na evolução da economia nos curto e médio prazos, são muitos e
variados os desafios que se colocam ao sector florestal nos domínios
socio-económico e ambiental, desafios que exigem soluções e respostas
inovadoras. Como identifica a estratégia de crescimento da União Europeia –
EUROPA 2020, a inovação, a investigação e a formação técnico-científica irão desempenhar
um papel de enorme relevo na construção do futuro.
No entanto, em Portugal ainda subsistem
importantes lacunas ao nível da investigação florestal, sobretudo dada a
importância do sector para o desenvolvimento do país - 1,65% PIB, cerca de 11%
das exportações. A perda de importância da investigação no sector florestal é
um problema que tarda em ser resolvido, designadamente ao nível da produção
florestal. Já em 2001, o Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (CNADS) afirmava que não obstante alguma da investigação florestal
feita em Portugal apresentar qualidade internacional, subsistiam insuficiências
e ineficácias associadas aos condicionalismos dos recursos humanos, materiais e
institucionais.
Tendo como referência a
Finlândia, um país onde o sector florestal constitui um pilar estratégico da
economia (4% PIB e 20% das exportações) e que tem na investigação/inovação um
dos vectores do desenvolvimento do seu programa florestal nacional, constata-se
que Portugal carece de uma “agenda estratégica para a investigação florestal”.
Portugal precisa de avançar na criação de um cluster de investigação que integre a investigação (INRB e unidades
de investigação inseridas no meio académico e empresarial) e os principais
agentes do sector, quer da produção quer da indústria transformadora.
A existência de um cluster da investigação permitiria fomentar
o trabalho em rede e pôr termo a uma investigação excessivamente fragmentada e
de cariz predominantemente sectorial que actualmente se faz em Portugal. Esta
solução, também permitiria contribuir para mitigar o desfasamento entre a oferta
e a procura da investigação.
Com a criação desse cluster seria possível desenvolver uma
plataforma para a promoção da investigação pluridisciplinar e interinstitucional,
que associe os recursos do sector público com as necessidades e capacidade de investimento
do sector privado. No caso concreto da investigação florestal, é necessário
ajustar a duração dos projectos de investigação ao objecto de estudo. Actualmente,
o modelo de financiamento da investigação em Portugal não se coaduna com os
ensaios de longa duração exigidos pela investigação florestal, nomeadamente ao
nível da silvicultura. Nos moldes actuais do financiamento da investigação, o
Eng. Joaquim Vieira Natividade não teria condições para realizar a investigação
que produziu sobre a subericultura e que ainda hoje, mais de 60 anos volvidos,
ainda é uma referência mundial.
Estação Florestal Nacional, o laboratório de investigação florestal do Estado |
A investigação
em rede, de base pluridisciplinar, é a melhor solução para os desafios que se
colocam ao sector florestal nacional: a promoção de florestas mais saudáveis e
resilientes, que garantam a sustentabilidade do abastecimento de matéria-prima
à indústria transformadora, constitui, desde logo, o principal desafio. Mas
outros desafios se perspectivam no horizonte, nomeadamente a adaptação da
floresta às alterações climáticas, o melhoramento florestal, a inovação
tecnológica na plantação, na gestão e exploração florestal e nos processos
industriais de transformação (optimização do aproveitamento das
matérias-primas) e os novos eco-produtos florestais (ex. novos compósitos e
nanotecnologia) e da bioenergia.
A organização da investigação florestal e a capacidade de resposta aos desafios do sector são dois factores-chave que justificam que, no actual contexto de reformas estruturais, seja dado maior ênfase para o papel da investigação/inovação. Como afirmou recentemente o Eng. João Soares, assessor do Grupo Portucel-Soporcel, no lançamento da conferência internacional da IUFRO sobre investigação de produtos florestais[1] que decorreu em Portugal, “o conhecimento obtido pelas universidades e pelas empresas da área florestal poderia juntar-se e dar origem a uma rede única, visando a conservação e desenvolvimento sustentável do sector”. Sem dúvida que esse é o caminho que Portugal necessita de trilhar para assegurar o futuro do sector florestal.
A organização da investigação florestal, materializada na criação de um cluster, é decisiva para a implementação de uma estratégia integrada para o sector florestal ao nível da investigação, do desenvolvimento experimental e da inovação na produção, indústria e na comercialização.
A organização da investigação florestal e a capacidade de resposta aos desafios do sector são dois factores-chave que justificam que, no actual contexto de reformas estruturais, seja dado maior ênfase para o papel da investigação/inovação. Como afirmou recentemente o Eng. João Soares, assessor do Grupo Portucel-Soporcel, no lançamento da conferência internacional da IUFRO sobre investigação de produtos florestais[1] que decorreu em Portugal, “o conhecimento obtido pelas universidades e pelas empresas da área florestal poderia juntar-se e dar origem a uma rede única, visando a conservação e desenvolvimento sustentável do sector”. Sem dúvida que esse é o caminho que Portugal necessita de trilhar para assegurar o futuro do sector florestal.
A organização da investigação florestal, materializada na criação de um cluster, é decisiva para a implementação de uma estratégia integrada para o sector florestal ao nível da investigação, do desenvolvimento experimental e da inovação na produção, indústria e na comercialização.
Miguel Galante (Eng. Florestal)
Gazeta Rural, edição n.º 182 (Jul.2012)
[1] Conferência sobre produtos florestais da União Internacional
das Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO) - 8 a 13 de Julho de 2012