quinta-feira, 15 de março de 2012

Março, o mês das florestas

A importância das florestas para o desenvolvimento sustentável é hoje reconhecida por toda a Sociedade. Para além da madeira, a floresta fornece um vasto conjunto de bens e serviços, de que se destaca, desde logo, a purificação do ar. A floresta é importante na regulação das bacias hidrográficas, onde é fundamental para a qualidade da água, protege o solo contra a erosão, fixa o carbono da atmosfera, assegura a fertilidade do solo e contribuiu para a conservação da biodiversidade.

A percepção da população portuguesa é que a floresta está a diminuir. Os resultados de um estudo europeu recente sobre a percepção da importância da floresta e da actividade florestal, evidenciam que metade dos portugueses inquiridos considera que a floresta está a diminuir em Portugal e muito! Talvez seja um efeito das imagens da degradação da floresta que todos os anos passam nos telejornais, com extensas áreas florestais a arder…
Tree parade - edição 2007 (exposição Terreiro do Paço, Lx)

Todavia, actualmente a floresta ocupa cerca de 40% do nosso território e está na base de uma indústria competitiva e com um peso crescente na economia nacional. Uma floresta que teve uma expansão impar nos últimos cem anos; no início do século XX, a floresta representava apenas 10% de um Portugal agrícola (e pastoril).

Também é curioso verificar que esse mesmo estudo revela que os portugueses consideram que a principal função da floresta é a protecção e a conservação (uma resposta que está em linha com a opinião generalizada dos europeus). Todavia, se compararmos com as respostas dos Finlandeses, regista-se uma percepção totalmente diferente, com a valorização dos aspectos económicos da floresta (produção de madeira) e a gestão florestal sustentável. E não é por acaso, a Finlândia é o país europeu onde o sector florestal mais contribui para o PIB – cerca de 5%.

O sector florestal nacional também tem um peso significativo no PIB, sendo mesmo um dos países europeus em que a floresta detém mais valor económico, muito por força do valor da cortiça. Daqui conclui-se que é necessário prosseguir o trabalho de informação e sensibilização dos portugueses encetado durante o Ano Internacional das Florestas.

Mas, Março é o “Mês das Florestas” e no próximo dia 21 de Março, celebram-se 40 anos da primeira comemoração do Dia Mundial da Floresta em Portugal. Este ano, esta data simbólica tem um valor especial, já que pela primeira vez o Dia Mundial da Floresta é celebrado com uma “árvore nacional” – o nosso sobreiro.

A celebração do Dia Mundial da Floresta será uma boa oportunidade para lembrar aos portugueses a importância da floresta. Nos últimos dois anos, esta data foi assinalada com um evento oficial em torno de um assunto de actualidade: na Lousã, em 2010, sobre a importância da Certificação Florestal e em 2011, o Ano Internacional das Florestas, sobre a importância das florestas urbanas e peri-urbanas, em Monsanto - Lisboa.

Aguardo com interesse a iniciativa que o actual Governo irá desenvolver na celebração do Dia Mundial da Floresta. Em Dezembro, a ministra da Agricultura anunciou o projecto “Vamos Plantar Portugal”. Na ocasião desse anúncio, Assunção Cristas afirmou que o seu Ministério iria “trabalhar para que seja possível, na altura em que é mais conveniente, montar uma grande acção, assente no voluntariado, para plantar ou semear Portugal”, para tornar o país mais verde, com 10 milhões de novas árvores.

De facto, essa iniciativa seria uma boa oportunidade para impulsionar as actividades de sensibilização e educação ambiental junto das escolas e, também, da população jovem. E sobre esta matéria, interrogo-me se o actual Governo irá manter o Programa de Voluntariado Jovem para as Florestas. Um programa de características impar na Europa, que, desde o seu início em 2005, já envolveu mais de 45.000 jovens em acções de sensibilização, vigilância e limpeza da floresta, mas que corre sérios riscos de acabar na voragem da austeridade governamental.

Sinceramente, espero que o Governo reconheça a importância da sensibilização para as questões da floresta junto dos portugueses e que volte a apostar no papel que os jovens podem ter nessa acção. Espero que o Governo dê continuidade a este programa de voluntariado, que tem sido reconhecido por todos os intervenientes como importante para a preservação da floresta e para a sensibilização da sociedade e, principalmente, da população mais jovem para as questões ambientais. Um programa que foi uma das marcas positivas do Ano Europeu do Voluntariado.

Para mim, o Dia Mundial da Floresta será sempre um dia de festa e de promoção da importância da floresta para o bem-estar e para a vida. Ainda tenho bem viva na memória a árvore que ajudei a plantar na 4.ª classe. A escola já fechou… mas a árvore lá permanece.


Miguel Galante (Eng. Florestal)
Publicado na Gazeta Rural, edição n.º 174 (Mar2012)