domingo, 15 de abril de 2012

Os desafios da floresta portuguesa


O sector florestal é estratégico para o desenvolvimento regional, para o crescimento das exportações, do emprego e da economia do país. 
A floresta ocupa cerca de 3,45 milhões de hectares do território nacional. Uma floresta que assenta, sobretudo, na monocultura de três espécies - pinheiro bravo, eucalipto e sobreiro, que estão na base de uma fileira silvo-industrial competitiva que é responsável por mais de 10% das exportações nacionais e por 5,3% do Valor Acrescentado Bruto nacional. Mas, a importância da floresta em Portugal vai muito para além da economia; a floresta é também um recurso ambiental e este é o grande desafio que se coloca hoje à política florestal: concretizar a dupla dimensão de recurso económico e de bem natural. 
Num momento em que se prepara a fusão da Autoridade Florestal Nacional com o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, se procede à revisão dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF) e se discute a nova PAC, importa reflectir sobre o futuro da floresta e do sector florestal no nosso país. 
Esta é uma reflexão que deve ter em conta o peso crescente da industria florestal na economia nacional e no mercado global, as especificidades da floresta atlântica, da floresta de montanha e da floresta mediterrânica, as características da propriedade florestal, maioritariamente privada, atomizada e de pequena dimensão (estimava-se há uns anos atrás que 83% da floresta portuguesa estava na posse de 400.000 proprietários privados …) e a forma como esses proprietários gerem a floresta e nela investem.
O programa do Governo considera a floresta “um sector potenciador de riqueza, de biodiversidade, de equilíbrio ambiental e de um bom ordenamento do território". Uma visão programática consensual e que recentemente teve eco nas palavras do Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Daniel Campelo, que defendeu ser necessário encontrar formas de “mobilizar os proprietários para porem a floresta abandonada a produzir”. O combate ao abandono é um factor crítico para o futuro da floresta portuguesa. Disso, ninguém duvida!

Um outro desafio que se coloca ao sector é a definição das metas de crescimento da floresta nos PROF, quer na perspectiva da especialização funcional do território, quer na arborização dos terrenos agrícolas e incultos. A arborização do território é um desafio antigo: já na década de 50 do século passado o Prof. Manuel Gomes Guerreiro afirmava que cerca de 60% dos solos do território de Portugal continental tinham aptidão para a floresta. Todavia, num momento em que a indústria transformadora carece de matéria-prima e que a emergente fileira da biomassa florestal aumenta a pressão na procura de material lenhoso, constata-se que a área florestal tem aumentado em Portugal a um ritmo lento: 0,3%/ano entre 1990 e 2000 e 0,1% ao ano na última década.
Outros desafios e questões se colocam no horizonte: Que medidas para aumentar a competitividade da produção florestal? Que políticas fiscais adaptadas à actividade florestal? Que rumo para a certificação florestal? Que investigação no melhoramento das espécies florestais e na condução dos povoamentos para aumentar a produtividade e fazer face às alterações climáticas? Que novas valorizações para a floresta (energia, serviços, ambiente)? Que futuro para as ZIF? Que solução para o cadastro florestal?

A Estratégia Nacional para as Florestas (ENF), aprovada no Conselho de Ministros em Setembro de 2006, indica o caminho nas suas linhas estratégicas de intervenção. No quadro orientador apresentado na ENF é estabelecido um conjunto de acções que permitem abordar os dois principais problemas estruturais da floresta em Portugal: os riscos (pragas e doenças e os incêndios florestais – este ano já foi contabilizada uma área ardida oito vezes superior à média do decénio) e a “crónica” falta de competitividade da produção florestal.
Sublinhando o papel da iniciativa privada, o Governo tem a obrigação de criar condições atractivas para o investimento nas florestas, quer no que respeita ao enquadramento legal, nas componentes fundiária, fiscal e regulamentar, quer quanto à mitigação dos riscos. Neste contexto, a preparação das medidas florestais na nova PAC 2014-2020 constitui um importante desafio para o actual Governo; por ventura, o principal desafio no curto prazo.

Perante tantas questões e desafios, afirmar a floresta como um pilar estratégico do desenvolvimento do país deve ser encarado como um desafio colectivo, que diz a respeito aos agentes do sector florestal, aos técnicos, aos proprietários e às suas organizações, mas também à sociedade civil, aos governantes e à classe política. Um desafio que exige um compromisso com o futuro, para além da legislatura.
Nestes tempos de dúvidas e incertezas quanto ao futuro, uma certeza: Portugal precisa de “ter condições para melhorar e incrementar a disponibilidade de madeira, através de políticas florestais ambientalmente criativas, socialmente justas e economicamente consequentes”. Palavras assertivas do Dr. José Honório, Director executivo do grupo Portucel-Soporcel - o terceiro principal exportador nacional. Para reflectir e agir!

Miguel Galante
(Eng. Florestal)
Publicado na Gazeta Rural, edição n.º 176 (Abr.2012)