quinta-feira, 16 de maio de 2013

Que futuro para o programa de Sapadores Florestais?


Os incêndios florestais constituem a principal ameaça à sustentabilidade da floresta portuguesa. O balanço final de 2012 contabilizou 110.000 hectares de área ardida, num registo que mantém Portugal com o pior desempenho em matéria da prevenção e mitigação dos incêndios florestais no contexto dos países do Sul da Europa, como evidenciou o relatório publicado em Março pela Nações Unidas sobre o estado das florestas no Mediterrâneo.

Este cenário, por ventura demasiado simplista, não significa que nada tem sido feito para atacar o problema dos incêndios florestais em Portugal. Pelo contrário – na sequência dos devastadores incêndios florestais de 2003 e 2005, o país ganhou uma nova consciência para este problema e, sobretudo, para a necessidade de uma intervenção planeada e integrada como forma de o mitigar. Daqui, viria a resultar a adopção, em sede de Conselho de Ministros, do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios em Maio de 2006.

O programa de Sapadores Florestais constitui um dos alicerces do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios em matéria de prevenção estrutural. O decreto-lei que estabeleceu o regulamento jurídico da criação e funcionamento das equipas de Sapadores Florestais foi publicado há já 14 anos. Foi em 21 de Maio de 1999, que a publicação desse diploma estabelecia o marco inicial do programa nacional de sapadores florestais, dando assim cumprimento a uma das ações prioritárias inscritas na Lei de Bases da Politica Florestal.

Em 1999, foram criadas as primeiras equipas de sapadores florestais, profissionais qualificados para a realização de atividades de silvicultura preventiva e com capacidade de intervenção rápida em focos de incêndio nascentes. Actualmente, de acordo com a informação do Ministério da Agricultura, após um percurso sinuoso, com avanços e recuos, o programa de Sapadores Florestais regista 282 equipas em funcionamento, cerca de 60% das 500 equipas de sapadores florestais previstas constituir até 2020.

Gazeta Rural n.º 201 (15.5.2013)

Do conjunto das equipas de sapadores florestais operacionais, 69 estão integradas em câmaras municipais e juntas de freguesia, acometendo as demais a organizações de produtores florestais e a órgãos de administração de baldios numa parceria público-privada de características ímpares na Europa.

No decurso da minha vida profissional, tive oportunidade de conhecer de perto o programa de sapadores florestais e a importância do trabalho que estas equipas desenvolvem no terreno, na protecção dos povoamentos florestais, quer face aos incêndios florestais quer na debelação de problemas fitossanitários.

Os Sapadores Florestais são trabalhadores especializados, multifacetados, com perfil e formação específica adequados para a gestão e protecção da floresta. Mas, o programa de sapadores florestais vai muito para além da intervenção na floresta. São mais de 1.400 mulheres e homens que também contribuem para a sensibilização e informação das populações e dos proprietários florestais para os cuidados no uso do fogo e também para as boas práticas de gestão florestal.

O Estado, para além de proporcionar a formação e o apetrechamento de cada equipa, comparticipa com 35 mil euros do Fundo Florestal Permanente seis meses de serviço público definido pelo ICNF, que abrange os domínios da prevenção florestal, vigilância e apoio ao combate aos incêndios florestais. Nos restantes meses, os sapadores florestais prestam serviço à comunidade local, em intervenções localizadas e estratégicas de silvicultura preventiva.

No entanto, este programa do Ministério da Agricultura está a deparar-se com muitas dificuldades na sua continuidade, agravadas pela crise económica e financeira com que o país se depara. Contrariamente ao que estava inicialmente inscrito no Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, que previa a constituição de 20 novas equipas de sapadores por ano, em 2012 não foi constituída qualquer nova equipa. Acrescem atrasos nos pagamentos da prestação do serviço público pelo Ministério e, mais recentemente, a suspensão da comparticipação do serviço público às 69 equipas de Sapadores Florestais das autarquias locais, condicionando a intervenção destas equipas na prevenção estrutural.

Será importante que o compromisso do Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural no sentido da resolução célere de mais este imbróglio administrativo-financeiro seja efectivamente concretizado. A prevenção e o combate aos incêndios florestais precisa da mobilização de todos os agentes de protecção civil.

A terminar, uma questão. O Ministro da Administração Interna já anunciou quanto vai custar o combate aos incêndios florestais em 2013 – 78,5 milhões de euros. Mas ... e na prevenção dos incêndios florestais? Qual é o envelope financeiro do Ministério da Agricultura? Que trabalho de prevenção estrutural foi realizado no Outono/Inverno? Quando vai iniciar a campanha de sensibilização do Ministério da Agricultura? Que futuro para as equipas de sapadores florestais? Estamos em meados de Maio e o calor mais cedo ou mais tarde vai começa a apertar …


Miguel Galante(Eng. Florestal)
Gazeta Rural, edição n.º 201 (14.5.2013)