sábado, 2 de março de 2013

A floresta no novo PDR


O inicio do ano ficou marcado pelo debate comunitário em torno da Reforma da PAC, no horizonte 2014-2020. Nesse âmbito, o “relatório Capoulas”, aprovado na Comissão de Agricultura do Parlamento Europeu no final de Janeiro, constituiu um contributo importante para o debate político e, sobretudo, para um recentramento da PAC nas questões sociais, do emprego e da qualificação profissional.

De Estrasburgo, resultou um mandato para o Parlamento Europeu negociar com a Comissão Europeia e com o Conselho Europeu um conjunto significativo de alterações à proposta original de regulamento do FEADER, nomeadamente a inclusão da competitividade da floresta como uma das prioridades da política de desenvolvimento rural.

A diversidade da floresta europeia constitui um desafio para a politica comunitária de desenvolvimento rural
Numa análise sucinta sobre o enquadramento das florestas na política de desenvolvimento rural europeia, constata-se que as medidas florestais representavam cerca de 9% do orçamento comunitário suportado pelo FEADER, num claro desequilíbrio entre a importância das florestas (37% do território da União Europeia) e do sector florestal europeu (8% do valor acrescentado gerado pela industria transformadora) e o peso que lhe era atribuído no orçamento comunitário.

Em Portugal Continental, o Programa de Desenvolvimento Rural 2007-2013 compreendia inicialmente 441 milhões de euros de despesa pública para as medidas florestais, que representavam cerca de 10% do envelope financeiro global. A floresta constituiu (e bem) uma das quatro fileiras estratégicas do ProDeR, com as medidas florestais inscritas nos eixos da Competitividade e da Sustentabilidade, dando cumprimento à Estratégia Nacional para as Florestas.

Ao nível da Promoção da Competitividade, a Medida 1.3 compreendia um conjunto de apoios financeiros destinados ao aumento da competitividade do sector florestal, nomeadamente ao nível da promoção dos investimentos produtivos na melhoria económica da floresta (gestão florestal), para a gestão multifuncional (promoção do uso múltiplo da floresta – recursos cinegético, dulçaquícolas e silvestres) e também para a modernização e capacitação das empresas florestais.

No domínio da Sustentabilidade do Território, os apoios destinavam-se à florestação, à protecção da floresta contra os incêndios florestais e os agentes bióticos e também para a conservação da biodiversidade (ex. manutenção das galerias ripícolas), dispersos numa multiplicidade de Acções e subacções da Medida 2.3.

Porém, da consulta dos relatórios de avaliação externa do ProDeR, constata-se que as medidas florestais não só arrancaram tarde (os regulamentos de aplicação dos apoios apenas foram aprovados em Agosto de 2008), como arrancaram com dificuldade, devido à falta de capacidade nas Direcções Regionais de Agricultura para proceder à análise dos pedidos de apoio. Em termos práticos, apenas em 2010 foi possível arrancar efectivamente com as medidas florestais, sobretudo após as alterações introduzidas na Portaria n.º 814/2010, de 27 de Agosto, que permitiram a simplificação do acesso e majoração dos níveis de apoio.

No final de 2012, a Autoridade de Gestão do ProDeR contabilizava 279,5 M€ de compromisso assumidos, dos quais haviam sido pagos 82,1 M€ aos beneficiários. No entanto, apesar dos sinais positivos do aumento da capacidade de absorção dos fundos disponíveis nas Medidas Florestais, em Janeiro 2012 a Autoridade de Gestão do ProDeR procedeu a um pedido de alteração junto da Comissão Europeia, que se traduziu numa redução significativa das verbas disponíveis para as Medidas florestais, com previsíveis consequências na negociação do envelope financeiro para a floresta no próximo PDR.

Importa, nesta fase, analisar o que correu bem e menos bem com o ProDeR e, sobretudo, preparar o futuro! A Comissão Europeia está apostada na simplificação das medidas, propondo a existência de uma única medida florestal. Também, deseja maior flexibilidade no desenho dessa medida florestal, por forma a permitir uma melhor adequação à especificidade da floresta a apoiar - a esse propósito, recordo a proposta apresentada pela FORESTIS de uma “regionalização” dos apoios florestais, que deve merecer reflexão.

A proposta de regulamento do FEADER apresentada pela Comissão e as emendas propostas pelo Parlamento Europeu antecipam uma boa cobertura das necessidades de apoio ao sector florestal europeu. Na minha leitura, os apoios para os investimentos produtivos para a melhoria económica das florestas mereciam uma redacção mais esclarecedora do entendimento de Bruxelas sobre os investimentos elegíveis …

Todavia, centrando-me em Portugal, na minha opinião, atendendo à importância que o sector florestal tem na economia nacional (nomeadamente, nas exportações), para o emprego no meio rural e para o desenvolvimento e sustentabilidade dos territórios rurais, justificava-se a existência de um “position paper” florestal, com origem nos agentes da fileira florestal, quer ao nível da produção, quer ao nível da transformação. Um documento de orientação, que reportasse ao Governo as principais preocupações e os factores críticos de desenvolvimento, bem como as oportunidades do sector florestal no curto e médio prazo e que afirmasse as expectativas do sector na preparação da nova medida florestal a inscrever no PDR 2014-2020.



Miguel Galante(Eng. Florestal)
Gazeta Rural, edição n.º 196 (28.2.2013)