As Nações Unidas elegeram o papel das florestas no combate
às alterações climáticas como o tema para as celebrações do Dia Internacional
das Florestas em 2015. As mudanças climáticas constituem a maior ameaça
ambiental do século XXI, com consequências profundas e transversais em vários domínios
da sociedade.
A Mata Nacional das Terras da Ordem, em Odeleite, está numa das zonas mais afetadas pelas alterações climáticas |
Os estudos realizados em Portugal nos projetos SIAM I e II evidenciam
que as alterações climáticas irão produzir impactos particularmente gravosos
nas florestas, por via do aumento da temperatura e sobretudo da redução da
precipitação. De acordo com esses estudos, nas florestas haverá alterações da produtividade
dos povoamentos florestais e da distribuição geográfica das espécies florestais,
que tenderão a migrar de sul para norte e do interior para o litoral. A
investigação concluiu também que existe um risco acrescido de aparecimento de
novas pragas e de agravamento dos incêndios florestais, em resultado de um
clima mais quente e seco.
Nas principais espécies florestais do nosso coberto
florestal, prevê-se uma redução da produtividade que no pinheiro-bravo, com
excepção do norte litoral, onde poderá aumentar 10%, será compreendida entre
27% no centro litoral e acima de 50% no sul. No eucalipto, a produtividade também
pode aumentar em cerca de 10% no norte litoral, mas no coração da área de
produção – a região centro a diminuição da produtividade ser generalizada (mais
acentuada no centro interior (-30%) do que na região litoral (cerca de -15%)).
Nestas duas espécies, os estudos realizados indicam uma diminuição da área de
distribuição potencial, com retração significativa a sul e aumento nas zonas de
maior altitude.
No caso do sobreiro, a produtividade primária líquida
aumenta nas regiões norte e centro litoral, diminuindo de forma significativa
nos solos com menor capacidade de retenção para a água da região sul litoral (-
25%) e da região sul interior (- 60%). A área de distribuição desta espécie
poderá ser afectada, em particular no sul e interior do continente, resultado
do aumento da aridez. Atendendo à distribuição geográfica atual desta espécie,
o impacto económico resultante da diminuição da produtividade e do aumento da
mortalidade será substancial.
Tendo presente que os incêndios florestais constituem a
principal ameaça à sustentabilidade da floresta portuguesa, o agravamento das
condições meteorológicas favoráveis à ocorrência de grandes incêndios
florestais não pode ser ignorado. Assim, justifica-se o reforço das políticas
de Defesa da Floresta Contra Incêndio, sobretudo na implementação de medidas de
prevenção estrutural, com ênfase para uma gestão mais eficiente dos
combustíveis, que não pode ser dissociada da melhoria da gestão dos povoamentos
florestais. Por outro lado, a diminuição do número de ocorrências contribuiria
de forma relevante para aumentar capacidade de resposta dos meios de primeira
intervenção e combate, um domínio onde a sensibilização da população assume
particular relevância.
No que respeita aos incêndios florestais importa assinalar o
debate realizado no plenário da Assembleia da República, no qual foi notada a
ausência da Ministra da Agricultura, traduzindo-se num lamentável sinal
político do desinvestimento do Governo na prevenção estrutural dos incêndios
florestais e como se as condições meteorológicas mais favoráveis ocorridas no
verão passado tivessem resolvido os problemas estruturais que tornam as
florestas portuguesas tão vulneráveis aos incêndios.
Contrariamente ao facilitismo do Governo nesta matéria, os cenários
de alterações climáticas sugerem uma tendência para o aumento do risco
meteorológico de incêndio, destacando-se o seu aumento substancial nos meses de
primavera e outono com o consequente alargamento da época de maior risco de
incêndio. O relatório do IPCC lançado no ano passado aponta nesse sentido e alerta
para um agravamento entre três e cinco vezes do problema dos incêndios
florestais para o Sul da Europa e Portugal. Sendo Portugal o país europeu onde a
floresta mais arde, é urgente atuar no ordenamento florestal e no combate ao
abandono da floresta.
Como enfatizam as Nações Unidas, a gestão sustentável das
florestas é decisiva para vencer a batalha das alterações climáticas e este é
um combate em que Portugal tem de estar com grande empenho, sobretudo no que
respeita à mitigação do problema dos incêndios florestais.
Sem confiança no futuro da floresta, o investimento na
gestão dos recursos não acontece e com isso, a floresta passa de um sumidouro
de Carbono para um emissor de CO2, libertando para a atmosfera o
carbono sequestrado durante o seu crescimento no tronco e nas raízes.
Conforme afirma o Prof. Filipe Duarte Santos, o principal
investigador das alterações climáticas em Portugal, o nosso país constitui um
caso complexo e preocupante - Portugal é bastante vulnerável às alterações
climáticas e o processo de adaptação ainda está numa fase muito incipiente.
Este investigador conclui ainda que é preciso desenvolver uma estratégia
integrada e multissectorial de adaptação às alterações climáticas, uma
estratégia que permita mobilizar os portugueses e recursos financeiros para travar
esse combate às alterações climáticas e aqui o Fundo Português de Carbono, o
Fundo Florestal Permanente e os Fundos comunitários do Programa Operacional da
Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (PO SEUR) e do Programa de
Desenvolvimento Rural (PDR 2020) deverão ser constituir fontes de financiamento
prioritárias.
Miguel Galante (13.3.2015)
(Eng. Florestal)
(Eng. Florestal)
Gazeta Rural, edição n.º 243 (Mar. 2015)