Novembro é o mês da Castanha. Por
todo o país sucedem-se as notícias e os anúncios de festivais que celebram este
fruto, que já foi uma base importante da alimentação da população rural portuguesa.
Mas falar da castanha é também
falar de uma fonte de riqueza importante para as comunidades rurais do interior
norte e centro do País. É falar de uma fileira regional que assume grande
importância em Trás-os-Montes e que quer ganhar mais dimensão. Recentemente,
foi noticiado a perspectiva da construção de uma unidade industrial de
transformação de castanha com investimento francês superior a quatro milhões de
euros, que irá permitir a criação de 50 novos postos de trabalho em Vinhais.
Conforme foi noticiado por
ocasião do V Fórum Internacional dos Países Europeus Produtores de Castanha, realizado
no inicio deste mês em Bragança, Portugal é o segundo maior produtor europeu de
castanha e tem capacidade para duplicar a produção actual, que já representa 80
milhões de euros em exportações para a economia portuguesa.
A pinha e o pinhão é uma outra
fileira florestal regional que tem apresentado um bom desenvolvimento nos
últimos anos. Em Setembro último, estive em Alcácer do Sal, numa iniciativa que
reuniu produtores e industriais da fileira para assistir à apresentação do “Programa
de Valorização da fileira pinha/pinhão”, numa iniciativa da responsabilidade da
UNAC – União da Floresta Mediterrânica financiada pelo QREN.
Pinheiro manso, uma espécie em grande expansão |
O pinheiro manso, que actualmente
ocupa mais de 130.000ha do território nacional, foi a espécie florestal que
mais cresceu nos últimos 20 anos (em termos proporcionais), em resultado,
sobretudo, das políticas comunitárias de florestação das terras agrícolas. Só
nos últimos dez anos, os programas comunitários apoiaram a florestação de
12.000 hectares de novos povoamentos. De facto, são muitos os povoamentos
jovens que estão a entrar em produção, nomeadamente nas charnecas de Coruche,
Alcácer do Sal e Grândola.
Após um período difícil para a
produção nacional em consequência da forte concorrência do pinhão chinês no
mercado internacional, nos tempos mais recentes, tem-se assistido a um processo
de revalorização da pinha e do pinhão nacional. Actualmente, estima-se que a
fileira da pinha/pinhão represente um valor económico de 50 a 70 milhões de
euros/ano. Na ultima campanha, o mercado da pinha registou um preço médio de 0,80
€/kg.
Apesar do optimismo dos agentes desta
fileira, persistem problemas antigos por resolver e que condicionam o
crescimento deste subsector da economia florestal. O escasso nível de
organização na produção, a certificação da origem do pinhão nacional, o
controlo das transacções comerciais e o registo dos operadores económicos
envolvidos na cadeia de comercialização são condicionalismos estruturais ao
desenvolvimento da fileira. A estes factores, acresce a velha questão do IVA…
A proposta de alteração
legislativa do diploma que regulamenta a colheita, armazenamento e transporte
de pinha é um passo importante para a melhoria do funcionamento desta
actividade económica. A proposta do ICNF contempla a obrigatoriedade do registo
de todos os operadores económicos envolvidos na cadeia produção/transformação
de pinha/pinhão e a instauração do manifesto obrigatório da produção, documento
que irá acompanhar as pinhas desde a colheita no pinhal até à transformação
final, o que é um aspecto positivo para o aumento do controlo e da
transparência na comercialização e que poderão contribuir para melhorar a informação
sobre esta fileira e também para a reduzir o furto das pinhas.
Mas, outras fileiras regionais de
interesse local necessitam de ver aprofundada a sua organização e capacidade de
produção e rentabilização dos produtos, nomeadamente ao nível dos produtos
não-lenhosos e dos serviços como são os casos do turismo cinegético, da
produção e recolha de cogumelos silvestres ou da produção de resina.
Estes são desafios importantes
para o sector florestal nacional e que merecem uma maior atenção do poder
político e dos organismos reguladores do sector. Talvez a revisão da Estratégia
Nacional para as Florestas possa constituir uma boa oportunidade para dar um
novo estimulo na estruturação e valorização das fileiras florestais regionais.
Miguel Galante (Eng. Florestal)
Gazeta Rural, edição n.º 190 (11.11.2012)