terça-feira, 9 de julho de 2013

Floresta, Conhecimento e Inovação

No início deste mês (Junho) realizou-se o 7.º Congresso Florestal Nacional, organizado pela Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais em colaboração com a UTAD (Vila Real) e a Escola Superior Agrária de Bragança. Tendo como objectivo principal a valorização do Conhecimento e da Inovação na perspectiva do desenvolvimento do sector florestal, este evento proporcionou um amplo debate técnico-científico e a troca de experiências a mais de 300 congressistas que se deslocaram a Trás-os-Montes.

Sobretudo, tratou-se de um Congresso inovador, que envolveu de forma activa as academias transmontanas, numa parceria regional que importará cimentar no futuro, e os agentes das principais fileiras silvo-industriais (AIFF, CELPA, APCOR e Centro Pinus). Durante os quatro dias do principal encontro técnico-científico florestal nacional, realizaram-se 23 mesas temáticas e quatro laboratórios científicos, que estabeleceram o diálogo entre investigadores e os profissionais do sector que tanto tem sido reclamado.

Este Congresso também ficou marcado pela reivindicação do sector para o estabelecimento de uma “agenda para a investigação florestal”, dotada de recursos de financiamento adequados, para que a “investigação transforme investimento em conhecimento que origine inovação, pois só esta pode transformar conhecimento em mais rendimento para o País”, como afirmou a Prof. Maria do Loreto Monteiro, Presidente da Comissão Organizadora do Congresso na cerimónia de abertura. Um repto que está em linha com as preocupações apresentadas na entrevista publicada na última edição da Gazeta Rural sobre a necessidade da manutenção dos Laboratórios do Estado, para “que investiguem, no sentido de dar resposta a problemas concretos do sector”.

A forma de financiamento da investigação florestal foi um outro aspecto abordado no Congresso. As especificidades da investigação florestal, que requer um horizonte temporal mais dilatado para a produção de resultados, exigem uma revisão dos mecanismos de financiamento, que garantam a continuidade das linhas de investigação e que permitam envolver os actores florestais na eleição dos temas a investigar e, assim, responder com maior eficácia às reais necessidades de conhecimento e inovação do País, de forma a aumentar o valor económico total gerado pelos bens e serviços provenientes dos espaços florestais ou a eles associados. Na minha perspectiva, o modelo adoptado na Suécia para o financiamento dos Centros de Investigação Florestal constitui uma solução de compromisso bastante razoável, em que os custos operacionais são repartidos, em partes iguais, entre o sector privado e o Orçamento do Estado.

O sector florestal nacional debate-se com uma multiplicidade de problemas e de desafios que carecem de uma resposta mais efectiva do conhecimento científico. A convite da Comissão Organizadora do Congresso, tive a oportunidade de participar na mesa temática sobre certificação florestal, muito bem organizada pelo meu colega Nuno Calado, responsável do FSC em Portugal e membro da Direcção do PEFC Portugal. Nesta mesa temática foram apresentados os resultados de quatro experiências concretas de organizações que apostaram na implementação de Sistemas de Gestão Florestal Sustentável – Minho-Lima, Baixo Vouga, Coruche e a UNIMADEIRAS.

7 CFN - Oradores da Mesa Temática sobre Certificação Florestal
Apesar da reconhecida importância da certificação florestal para aumentar a competitividade do sector florestal em Portugal, ainda persistem vários constrangimentos - burocracia excessiva dos licenciamentos, no acesso a informação produzida com dinheiros públicos (ex dados do inventário florestal nacional) e na adequação dos requisitos e princípios das referências de certificação à realidade da pequena e muito pequena propriedade florestal, obstáculos que dificultam o trabalho dessas organizações. Nesta mesa temática também ficou bem vincado o papel central do movimento associativo florestal para a implementação da certificação florestal em Portugal e para responder aos muitos desafios técnicos que se colocam no terreno, nomeadamente nos territórios da pequena (e muito pequena) propriedade florestal.

Do meu ponto de vista, existem três grandes desafios que merecem uma reflexão mais aprofundada e que irão determinar o caminho da certificação florestal em Portugal: (i) a meta do crescimento das exportações nacionais de produtos florestais a inscrever na revisão da Estratégia Nacional para as Florestas, (ii) a necessidade de uma participação mais activa no apoio técnico e financeiro da parte da indústria transformadora que beneficia da existência de matéria-prima certificada nacional e (iii) a remuneração aos proprietários florestais das áreas certificadas sobre os serviços silvo-ambientas que prestam à Sociedade, nomeadamente na conservação da biodiversidade.

O 7.º Congresso Florestal Nacional produziu um bom debate sobre o sector e o seu futuro, num momento em que decorre a revisão da Estratégia Nacional para as Florestas e a preparação do próximo Programa de Desenvolvimento Rural 2014-2020. Os textos das conclusões certamente irão expressar os principais problemas e constrangimentos que condicionam o desenvolvimento da floresta portuguesa, mas também as oportunidade e as linhas de rumo para o crescimento sustentável do sector florestal.

Termino com uma palavra de felicitação para o Prof. Francisco Castro Rego, eleito Presidente da Direcção da Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais durante o Congresso. A sua vasta e diversificada experiência profissional e académica será fundamental para potenciar um papel mais interventivo desta sociedade técnico-científica na divulgação das ciências florestais e, sobretudo, no fomento da aproximação entre os investigadores e o meio académico com os agentes e técnicos do sector.

Miguel Galante
(Eng. Florestal)

Gazeta Rural, edição n.º 204 (16.6.2013)