segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

2013: o ano de todos os desafios


O ano que findou foi marcado três acontecimentos: o processo de fusão entre a Autoridade Florestal Nacional e o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, do qual resultou o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, o grande incêndio florestal que, em meados de Julho, assolou os concelhos de Tavira e São Brás de Alportel, do qual resultaram cerca de 25.000 ha de área ardida e mais de 10 milhões de euros de prejuízos estimados e a polémica em torno do debate público da proposta de legislação para o licenciamento das (re)arborizações.

O incêndio de Tavira marcou o regresso dos "mega-incêndios" às florestas portuguesas

2013, por seu turno, na minha opinião, ficará marcado como um ano decisivo para o sector florestal. Diria mais, afigura-se como o ano das grandes decisões! Desde logo, o desafio da preparação do Programa de Desenvolvimento Rural para o próximo período de financiamento comunitário 2014-2020 (e das respectivas medidas florestais) para negociar com Bruxelas. Um desafio prioritário e decisivo para o investimento no subsector da produção florestal e cuja negociação do envelope financeiro poderá ser prejudicada pelos cortes impostos na reprogramação financeira do ProDeR de Janeiro de 2012.

Mas, outros desafios prioritários perfilam-se em 2013: a conclusão do processo de revisão dos PROF (a Portaria que suspendeu parcialmente estes instrumentos regionais de planeamento florestal determina a conclusão do processo em Fevereiro), a entrada em vigor, a 3 de Março, do regulamento comunitário de comércio de madeira e a anunciada revisão da Estratégia Nacional para as Florestas. Estes são desafios que, certamente, irão marcar o futuro do desenvolvimento do sector florestal nacional nos próximos tempos.

É, hoje, unânime o reconhecimento da importância sector florestal, enquanto sector estratégico para o futuro do país. Pela vastidão do coberto florestal, pela relevância das funções económicas (5% do Valor Acrescentado Bruto nacional), ambientais (20% das Áreas Protegidas), sociais (criação de emprego no meio rural) e culturais que lhe estão associadas. Também a capacidade da indústria transformadora e o elevado número de agentes e operadores económicos envolvidos na produção, transformação e comercialização de produtos florestais tornam este sector decisivo para o crescimento das exportações, do emprego e para o relançamento da economia nacional.

No início do ano, a Autoridade de Gestão do ProDeR emitiu um comunicado em que dava nota do apoio já concedido nas medidas florestais. Mais de 250 milhões de euros de financiamento público que permitiu “alavancar” um investimento global de cerca de 440 milhões de euros no sector. Mas, quais são os impactos reais desses milhões de euros no sector? Em que medida foram mitigados os factores críticos que têm condicionado o aumento da competitividade? Estas são questões de fundo que importam ser respondidas em 2013, num quadro de preparação das medidas florestais a inscrever “novo PDR”.

A forma como as fileiras florestais têm revelado capacidade de absorção dos fundos comunitários disponibilizados no ProDeR é uma outra questão que urge responder. Em meados de Dezembro, assisti ao seminário “Mais e melhor pinhal”, organizado pelo Centro Pinus, que oportunamente discutiu os condicionalismos e as oportunidades de desenvolvimento da fileira do pinho, tendo sido identificada essa dificuldade/incapacidade dos proprietários do pinhal bravo aproveitarem os apoios do ProDeR. Mas, apesar dessa e outras preocupações apresentadas pelos agentes do sector durante os trabalhos do seminário, prevalece um sentimento de optimismo quanto ao futuro. Existe procura de matéria-prima e existe mercado para a madeira e subprodutos (ex. resina, materiais de pequena dimensão) da exploração do pinheiro bravo.

Na ocasião do seminário do Centro Pinus, também registei o compromisso assumido pelo Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural de que “todos os agentes do sector iriam ser ouvidos na preparação e regulamentação das medidas florestais”. E este é um aspecto importante para a preparação do próximo PDR.

O envolvimento atempado dos agentes do sector será fundamental para a preparação de uma boa proposta para a negociação com Bruxelas, que permita responder de forma cabal aos desafios de financiamento público que se colocam ao sector florestal e, simultaneamente, possibilite ir de encontro aos desafios estratégicos do crescimento económico da União Europeia – um Crescimento Inteligente, Sustentável e Inclusivo.

O sector florestal nacional tem condições para crescer. Dispõe de um tecido empresarial com ambição e com capacidade exportadora. Mas, para concretizar esse objectivo é necessário mobilizar o sector em torno de uma “agenda para o crescimento da floresta e do sector florestal em Portugal”, com o estabelecimento de prioridades concretas, de metas tangíveis, indicadores quantificáveis e de objectivos exequíveis no curto, médio e longo prazos. É necessário uma estratégia de futuro, que saiba tirar partido das sinergias entre Fundos Estruturais e os vários programas comunitários. Por isso, acredito que 2013 irá constituir um marco para o relançamento do sector florestal.


PS: Em Setembro de 2012 foi publicada a Lei n.º 53/2012, de 5 de Setembro, que actualiza o regime jurídico da classificação de arvoredo de interesse público. De certa forma, esta iniciativa legislativa do Parlamento também marca o ano 2012.


Miguel Galante
(Eng. Florestal)
Gazeta Rural, edição n.º 194 (23.1.2013)