quinta-feira, 18 de abril de 2013

O primeiro Dia Internacional das Florestas


A Assembleia-Geral das Nações Unidas declarou oficialmente 21 de Março como o Dia Internacional das Florestas. Com esta proclamação, as Nações Unidas quiseram sensibilizar a Sociedade Civil para a importância das florestas para o bem-estar da Humanidade e para o desenvolvimento sustentável, pelos benefícios que proporciona em termos económicos, ambientais e sociais.

Ban Ki-Moon, o Secretário-Geral das Nações Unidas, num comunicado emitido nesse dia sublinhava o papel central das florestas na conservação da biodiversidade e no combate ao aquecimento global, tendo feito um apelo aos Governos, aos agentes económicos e à Sociedade em geral para assumirem o compromisso de reduzir a desflorestação e prevenir a degradação das florestas.

Esses são dois desafios que também se colocam à floresta em Portugal, um dos países da União Europeia com maior taxa de cobertura florestal (35,4%) e onde a floresta constitui o uso dominante do solo. No entanto, tem-se assistido a um abandono progressivo do pinhal bravo e também dos azinhais e dos sobreirais, condicionando fortemente a sua manutenção no médio/longo prazo. A arborização também tem registado uma quebra significativa nos últimos anos. Os resultados preliminares do 6.º Inventário Florestal Nacional (reportados a 2010) apresentados pelo ICNF em finais de Fevereiro registavam uma taxa média de crescimento da floresta portuguesa nos últimos 15 anos de apenas 0,4%/ano. Um registo preocupante e que coloca em causa a sustentabilidade futura do abastecimento de matéria-prima à industria transformadora.

De facto, a capacidade de abastecimento de matéria-prima em quantidade, qualidade e certificada da industria transformadora das principais fileiras silvo-industriais da pasta e papel, da madeira e mobiliário e da cortiça deve constituir um objectivo central da Estratégia Nacional para as Florestas, que se encontra em reavaliação. Nesse contexto, o estimulo à expansão da área florestal e à gestão profissional e activa da floresta, nomeadamente na pequena propriedade florestal através das ZIF, devem constituir domínios estratégicos de intervenção prioritária junto da floresta privada, que representa cerca de 90% da floresta em Portugal.
A evolução recente da composição da floresta portuguesa evidencia uma mudança profunda na forma como os proprietários encaram o investimento nos recursos florestais, procurando minimizar os riscos dum investimento que tem associado um horizonte prolongado de retorno. O crescimento registado na área ocupada pelas plantações de eucalipto nos últimos 15 anos (aumento de 15% entre 1995-2010) é expressivo dessa mudança de atitude. Por outro lado, em igual período, assistiu-se a uma regressão significativa de 263.000 ha na área de pinhal bravo, dos quais 70.000 ha resultam da reconversão em eucaliptais (normalmente, na sequência dos incêndios florestais).
O dia 21 de Março também foi marcado pela apresentação do relatório sobre o estado das florestas do Mediterrâneo, da responsabilidade da FAO. Este documento de diagnóstico identifica Portugal como o país que apresenta maior densidade de área ardida no sul da Europa. De facto, os incêndios florestais continuam a ser o principal factor de risco do investimento por parte dos proprietários e gestores florestais.
Os incêndios florestais, cujas verbas para o combate irão ser reforçadas em 4 milhões euros, ascendendo a um total de 78,5 milhões de euros de acordo com o anúncio do Ministro da Administração Interna e regime jurídico das (re)arborizações são dois assuntos que, certamente, irão marcar a agenda política em 2013.
Mas, este mês de Março, também fica marcado pela entrada em vigor das novas regras para o comércio de madeira e de produtos derivados de madeira no espaço europeu. Trata-se de um regulamento comunitário que terá impacto no funcionamento normal da actividade dos agentes económicos do sector florestal, quer daqueles que operam com madeira nacional, como dos operadores que importam madeiras tropicais (Portugal continua a ser um dos principais importadores mundiais de madeiras tropicais para a indústria de mobiliário).
Como referiu oportunamente Pedro Serra Ramos, Presidente da ANEFA, a aplicação deste regulamento europeu deverá ser encarada como uma oportunidade para aumentar a transparência do mercado das madeiras, competindo a cada agente assegurar as “deligências devidas” quanto à legalidade da origem da madeira, ou seja, um sistema documental que garanta a rastreabilidade da madeira até à sua origem, na mata.
A exploração madeireira ilegal resulta numa perda de rendimentos para o proprietário e de receita fiscal para o Estado. As actividades ilegais comprometem também os esforços dos operadores responsáveis, ao introduzir no mercado madeira e produtos de madeira mais baratos, mas ilegais.
O caminho a seguir deverá passar por uma maior aposta na certificação da gestão florestal sustentável. Uma solução que se afigura decisiva para a transparência do comércio de madeiras, para a promoção da gestão activa e profissional dos recursos florestais e para aumentar a competitividade do sector florestal nacional.
A certificação florestal é uma solução que exige trabalho especializado, donde resulta a urgência da conclusão do processo da criação do alvará das empresas florestais por parte do Governo, bem como da aprovação dos “actos próprios” do Engenheiro Florestal por parte da Ordem dos Engenheiros.

Miguel Galante
(Eng. Florestal)
Gazeta Rural, edição n.º 199 (29.3.2013)