No passado dia 14 de Janeiro a
Fundação Calouste Gulbenkian acolheu a sessão de lançamento da iniciativa
governamental “Portugal pela Floresta”. Conforme foi anunciado na ocasião pela
Ministra da Agricultura, Assunção Cristas, esta iniciativa vai desenvolver um
conjunto de acções ao longo de 2014 que têm como objectivo colocar a floresta
na agenda dos portugueses, através da realização de várias acções de reflexão e
de sensibilização para promover e valorizar a floresta portuguesa.
De facto, a floresta portuguesa
tem valor e a sua importância deve ser do conhecimento dos Portugueses. O valor
acrescentado deste sector representa 2% do Produto Interno Bruto nacional e
contribui para cerca de 10% das exportações de bens. Em 2011, de acordo com as estatísticas
do INE, a fileira florestal apresentou um saldo fortemente positivo na balança
comercial externa, na ordem dos 1.892 milhões de Euros. Do ponto de vista
social, o sector florestal também tem um peso relevante, sendo responsável por
cerca de 100.000 postos de trabalho, muitos localizados em territórios
deprimidos do interior do País.
Painel de oradores na sessão de lançamento da iniciativa governamental "Portugal pela Floresta" |
De facto, são muitas as
iniciativas governamentais para o sector florestal inscritas nas Grandes Opções
do Plano. Segundo o Governo, será “dado particular empenho na consolidação do
contributo do sector florestal no crescimento económico nacional e na
sustentabilidade dos territórios”. Passemos às intenções…
O Governo enfatiza que será
reforçada a coerência entre os diversos instrumentos de planeamento, face às
exigências do novo ciclo de programação 2014-2020. Esta é uma matéria crítica
para um bom aproveitamento dos fundos financeiros que serão disponibilizados para
o sector e nesse sentido, o Ministério da Agricultura prevê a actualização da
Estratégia Nacional para as Florestas, do Plano Nacional de Acção de Combate à
Desertificação e do Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios.
Também em 2014, o Ministério de
Assunção Cristas irá proceder à simplificação dos instrumentos operacionais e
do quadro jurídico e regulamentar do sector florestal, o que traduzir-se-á na
revisão dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal, do Programa de Sapadores
Florestais, estando também prevista a revisão de outros regimes jurídicos
(Zonas de Intervenção Florestal, Caça e Recursos Cinegéticos, e Pesca e
Aquicultura das Águas Interiores). Portanto, se o Governo conseguir concretizar
tudo isto a que se propõe em 2014, será o “ano das florestas” em Portugal. Mas…o
importante será concretizar essas intenções…
Mais, o Governo prevê ainda a
implementação do Programa Operacional de Sanidade Florestal, onde será
reforçada a prioridade na erradicação e controlo de pragas e doenças que mais
severamente afectam os ecossistemas florestais, sendo que no quadro específico
do Plano de Acção Nacional para o Controlo do Nemátodo da Madeira do Pinheiro, com
a adopção de um novo modelo de intervenção na zona tampão. Muito bem! É uma
medida acertada e necessária para o país, dada a área significativa de floresta
que está afectada pela acção dos agentes bióticos nocivos. Todavia, este novo programa
operacional já foi anunciado pelos responsáveis do ICNF há mais de um ano.
Curiosamente, as Grande Opções do
Plano são omissas quanto à intervenção na Defesa da Floresta Contra Incêndios.
Para além de uma breve referência quanto à necessidade de redefinição do modelo
de utilização de meios aéreos de combate a incêndios florestais (em sequência
da extinção da Empresa de Meios Aéreos, SA), nada é referido sobre a
intervenção do Governo em matéria da prevenção dos incêndios florestais, como
se este problema não constituísse a principal ameaça à sustentabilidade da
floresta portuguesa e a principal preocupação da Protecção Civil em Portugal,
com os riscos conhecidos associados à protecção de pessoas e bens. Também o
investimento na gestão e rentabilização das florestas de gestão pública é
omisso nas Grandes Opções do Plano para 2014, como se Portugal pudesse dar ao
luxo de desperdiçar os seus recursos próprios….
Mas, gostaria de voltar ao tema
desta crónica – a iniciativa governamental “Portugal pela Floresta”. Pois bem, em
contraponto à propaganda governativa que representou o acto inicial desta iniciativa
do Ministério da Agricultura, aqui ao lado, em Espanha, foi apresentado pelo Ministro
da Agricultura o “Plano de Activação Socio-economica do Sector Florestal”,
destinado a orientar a acção e os fundos públicos para o período 2014–2020 e
que me parece constituir uma iniciativa governamental objectivamente mais útil
para o desenvolvimento do sector florestal.
Este plano de acção sectorial,
alicerçado num conjunto de linhas de actuação de responsabilidade institucional
(Governo e sector público) e de iniciativa privada, dos agentes e organizações
do sector, tem como objectivo aproveitar a capacidade do sector florestal para
alavancar a economia e contribuir para o desenvolvimento e emprego no mundo
rural e para a melhoria das qualificações e competências dos profissionais da
floresta.
O plano preconiza ainda a
melhoria da gestão e o aumento do valor económico dos activos florestais e da competitividade
das empresas do sector. De facto, esta iniciativa do Governo espanhol parece-me
ser bastante mais meritória e amplamente justificadora de uma abordagem
semelhante por terras lusas.
Portugal e o sector florestal
necessitam urgentemente duma visão estratégica enquadradora, que estabeleça as grandes
linhas de actuação nos vários domínios de intervenção e, ancorados numa
Estratégia Nacional para as Florestas devidamente revista, se possam
estabelecer as principais metas do crescimento e, desse modo, orientar a
programação e as regras de acesso aos fundos comunitários que serão
disponibilizados para o apoio ao sector florestal no período 2014 – 2020, tanto
do FEADER como nos outros fundos e regulamentos europeus – FEDER, FSE, Fundo de
Coesão, LIFE, etc.
Num País em que os espaços
florestais correspondem a cerca de 2/3 do território nacional e representam um
recurso importante para o desenvolvimento dos territórios de baixa densidade do
interior, o Governo e as organizações representativas do sector têm obrigação
de fazer muito mais e melhor.
A floresta deve ser encarada como
um recurso prioritário para o desenvolvimento do País. Já é tempo de passar do
diagnóstico à estratégia, da intenção à acção concreta, e, de preferência, de
uma forma participada. “Portugal pela Floresta” deve ser sinónimo de
concretização e esta “mudança do chip” não parece ser difícil, basta olhar para
o outro lado da fronteira…
Miguel Galante
(Eng. Florestal)
(Eng. Florestal)
Gazeta Rural, edição n.º 217 (31.01.2014)