segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Um abraço solidário para com o povo grego


Esta semana, a tragédia humana dos fogos florestais voltou a entrar nas nossas casas, a partir da devastação causada pelos incêndios. Um ano depois do drama vivido em Portugal, as imagens e os relatos chocantes que nos chegam da Grécia alertam-nos, mais uma vez, para os riscos dos incêndios florestais.

Embora Portugal tenha reagido com coragem e determinação aos incêndios do ano passado, o perigo ainda espreita e entre nós, em Sintra, na Aroeira e ou em Sesimbra, encontramos zonas em tudo semelhantes aquela que foi devastada pela violência das chamas junto a Atenas.



O programa “Aldeia Segura”, coordenado pela Autoridade Nacional de Proteçção Civil, aponta no bom caminho para a mitigação do problema do interface urbano-rural, mas é preciso ter presente que ainda há muito caminho a percorrer e, acima de tudo, que é preciso envolver, de forma ativa, as autarquias. Sem a colaboração e envolvimento efectivo dos Municipios, das Juntas de Freguesias e dos agentes locais de Proteção Civil, este programa estará, necessariamente, condenado ao fracasso.
Como já tive oportunidade de expressar neste espaço de opinião, a chave para a mudança do paradigma assenta numa regionalização das políticas públicas. Sem descurar a necessária coordenação estratégica e a monitorização das políticas, num domínio em que a futura AGIF assume um papel central, a operacionalização precisa de uma descentralização urgente.

As Comunidades Intermunicipais (CIM), conforme defende o Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, podem assumir um novo protagonismo nesse patamar. Aliás, aqui ao lado, em Espanha, o planeamento supramunicipal na prevenção e combate aos incêndios rurais é feito à escala regional, dando expressão às várias florestas e incorporando as especificidades de cada região – a estratégia de prevenção e combate aos incêndios florestais na Área Metropolitana de Lisboa ou do Porto deve obedecer a lógicas e táticas diferentes daquilo que sucede na Serra da Estrela…

É nesse sentido, da progressiva regionalização das decisões, que aponta o Governo, conforme ficou patente no Conselho de Ministros Extraordinário dedicado à valorização do Interior do Pais, no qual foi aprovada uma resolução que define uma nova orientação estratégica para os Programas Regionais de Ordenamento Florestal (PROF) e na qual é estabelecido o enquadramento político da criação de uma 2.ª geração de PROF, que se traduzirá numa passagem dos atuais 21 Programas Regionais para apenas 7, tendo em vista ganhos de eficiência na sua implementação e a redução da complexidade administrativa para todos os agentes envolvidos.

Foi esse o sentimento expresso pelo Ministro da Agricultura ao afirmar que os municípios vão ter de integrar nos seus planos diretores municipais (PDM) as novas orientações contidas nos programas regionais até 31 de dezembro de 2020. "Passaremos do desordenamento total ou quase total, que infelizmente existe há muitas décadas, para um ordenamento progressivo”, afirmou Capoulas Santos a propósito desta Resolução do Conselho de Ministros.

Sem dúvida que esta é uma decisão política fundamental para mudar o estado da floresta em Portugal. No entanto, importará perceber se os PROF de 2.ª geração, de facto, estão preparados para esse efeito. Daquilo que tive a oportunidade de observar na consulta pública do PROF de Lisboa e Vale do Tejo, confesso que fiquei com algumas reservas quanto à capacidade novos PROF estabelecerem uma projeção até 2050 sobre a evolução da floresta no território nacional. Acresce que para concretizar tal desiderato, será necessário que, em simultâneo, ocorra também uma “reforma” profunda do ICNF, dotando este organismo de uma orgânica funcional e verdadeiramente desconcentrada, que permita materializar as orientações de política florestal no terreno.

Em suma, Portugal tem dado passos importantes na decisão política, mas continuamos a falhar na hora de marcar. Sem melhorar a concretização, a cenarização dantesca de incêndios florestais devastadores que percorrem 750 mil hectares num único ano, apresentada pelo especialista norte-americano Mark Beighley em Abril, será uma realidade trágica no médio/longo prazo.

Portugal tem registado um Verão atípico, de temperaturas relativamente baixas para os padrões dos últimos anos, com alguma precipitação e persistência de dias com nebulosidade baixa e chuviscos. Em Agosto as previsões meteorológicas apontam para o regresso do Anticiclone dos Açores às latitudes normais e o calor irá chegar em força. Veremos, então, se os Portugueses aprenderam a lição…

Termino com uma palavra de enorme saudação e gratidão ao editor da Gazeta Rural, o amigo José Luís Araujo, por mais um aniversário desta publicação que teimosamente, a partir de Viseu, vai contribuindo para divulgar o Portugal inteiro!

Miguel Galante (Eng. Florestal)
Gazeta Rural, edição n.º 321 (30.7.2018)

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